Os juros futuros encerraram o pregão desta segunda-feira (27) em queda firme, seguindo o movimento do exterior em uma sessão de aversão global ao risco que derrubou as taxas dos títulos do Tesouro americano (Treasuries). Pressionadas, em parte da sessão, pela desancoragem das expectativas de inflação, conforme mostrou o relatório Focus de hoje, as taxas de curto prazo encontraram fôlego para também fechar em queda, à medida que o restante dos vértices da curva a termo ampliarou o ritmo de baixa.
Ao fim do pregão, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento de janeiro de 2026 teve leve queda de 15,145%, do ajuste anterior, para 15,135%; a do DI de janeiro de 2027 recuou de 15,39% a 15,335%; a do DI de janeiro de 2029 cedeu de 15,18% para 15,075% e a do DI de janeiro de 2031 caiu de 15,14% a 15,01%.
Nos Estados Unidos, a taxa da T-note de dez anos exibia forte recuo de 4,634% a 4,534% perto do horário de fechamento do mercado no Brasil.
A fuga para os Treasuries americanos e outros títulos soberanos ao redor do mundo ocorreu por conta da ameaça da DeepSeek sobre o mercado de inteligência artificial (IA) americano. A startup chinesa revelou que conseguiu desenvolver ferramentas de IA com desempenho similar aos da OpenAI (desenvolvedora do ChatGPT), mas a um custo menor.
A notícia afastou os investidores do mercado de ações dos Estados Unidos, e analistas já estimam que o movimento, se sustentado, pode ter repercussões até para a política monetária do Federal Reserve (Fed), uma vez que a economia do país está mais diretamente ligada ao desempenho das bolsas.
“Os Treasuries podem apresentar uma reação significativa de queda das taxas a partir daqui, se houver um recuo de várias semanas das ações ou, pelo menos, uma queda de 10% nos índices gerais. Até o momento, estamos em um movimento de um dia, portanto, isso ainda está para ser visto”, avalia o time de estrategistas do ING. Segundo eles, o Fed ficará de olho nos movimentos dos mercados e pode reagir se houver sinais de que o enfraquecimento do mercado acionário americano terá consequências para a economia real.
Já no cenário doméstico, o quadro ainda é de preocupação com o processo de convergência da inflação à meta de 3% do BC. Após o IPCA-15 de janeiro vir acima do esperado e mostrar uma piora na sua composição, o mercado ajustou enfaticamente a projeção para o IPCA de 2025, de 5,08% para 5,5%, e de 2026, de 4,1% para 4,22%. A expectativa para a taxa Selic neste ano permaneceu em 15%, enquanto a do ano que vem subiu de 12,25% a 12,5%.
“O Banco Central não vem tendo sucesso em controlar as expectativas de inflação, mesmo com a indicação de um aperto monetário mais duro do que era esperado pelo mercado. Embora nosso cenário atual não seja de dominância fiscal no sentido estrito, vemos um papel central da política fiscal impedindo o controle da dinâmica inflacionária e as expectativas de inflação”, escrevem os economistas da AC Pastore em relatório.
Com o “forward guidance” dado pelo Copom na sua última reunião, há pouco debate sobre o próximo passo do colegiado, que deve subir os juros em 1 ponto percentual nesta quarta-feira e repetir a dose em março, salvo alguma mudança brusca de cenário.
“Acreditamos que a estratégia ótima de política monetária é o comprometimento pleno com a sinalização recente, mantendo a vigilância sobre a desancoragem de expectativas e reafirmando o compromisso com a convergência para a meta de inflação no horizonte relevante”, escreve em relatório Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú e ex-diretor do BC.
“Nesse sentido, a manutenção do ritmo de 1 ponto nas duas primeiras reuniões do ano é adequada, sem fechar a porta para altas adicionais de mesma magnitude nas reuniões seguintes, a depender da evolução do cenário, em particular da dinâmica da inflação e das expectativas”, conclui.
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